Motos elétricas dobram vendas no Brasil e exigem mais atenção no trânsito

Com aceleração instantânea e frenagem regenerativa, as motos elétricas mudam a forma de pilotar e exigem treinamento específico.

O ronco do motor está dando lugar ao silêncio elétrico nas ruas brasileiras. No primeiro trimestre de 2025, as motos elétricas deixaram de ser novidade para virar tendência — e o mercado nacional já está acelerando rumo a um novo capítulo. Segundo dados da Fenabrave, foram 3.452 unidades licenciadas entre janeiro e março, mais que o dobro do mesmo período de 2024, quando o número não passava de 1.686 emplacamentos.

É um salto que impressiona até os mais otimistas. Se, por um lado, ele confirma o avanço da mobilidade sustentável, por outro revela um desafio urgente: a adaptação dos condutores a uma tecnologia que muda completamente o jeito de pilotar.

De acordo com Diogo Figueiredo, gerente de Capacitação e Treinamentos do CEPA Mobility, a empolgação com o desempenho elétrico precisa vir acompanhada de cautela. “O torque imediato e a aceleração linear tornam as motos elétricas muito responsivas. É fácil se empolgar e acelerar demais, especialmente nas arrancadas. E o silêncio em baixas velocidades pode reduzir a percepção por pedestres e outros motoristas, aumentando o risco de incidentes urbanos”, alerta o especialista.

De fato, a ausência de ruído — um dos grandes atrativos das motos elétricas — acaba se tornando um fator de risco em avenidas movimentadas e cruzamentos. Em grandes cidades, onde o som ainda é um dos principais sinais de alerta, o “perigo invisível” das elétricas preocupa.

Outro ponto que merece atenção é o sistema de frenagem regenerativa, que reaproveita a energia das desacelerações para recarregar a bateria. Parece vantajoso, mas muda a sensação de pilotagem. “Esse tipo de freio altera o equilíbrio da moto. Quem vem da combustão pode se surpreender, porque a moto reduz a velocidade de forma diferente. Por isso, treinar frenagens progressivas e antecipar manobras é essencial”, reforça Figueiredo.

A combinação de aceleração instantânea, ausência de ruído e frenagem diferenciada exige mais do que habilidade: exige conscientização. Para o especialista, a popularização acelerada das motos elétricas no Brasil deve vir acompanhada de campanhas de segurança, atualização das autoescolas e até novas diretrizes de certificação para instrutores e fabricantes.

Atualmente, a legislação brasileira já enquadra ciclomotores e motocicletas elétricas nas mesmas categorias de habilitação (A e ACC). O problema, segundo Figueiredo, não é a falta de regulamentação — é o despreparo dos condutores. “Os exames e treinamentos ainda são pensados para veículos a combustão. As elétricas têm outro comportamento dinâmico. É fundamental que o piloto entenda essa diferença antes de sair rodando.”

O CEPA Mobility, referência internacional em segurança no trânsito, defende a criação de programas de adaptação. Entre as recomendações estão: praticar arrancadas suaves, manter sinalização antecipada, planejar rotas considerando a autonomia real da bateria e treinar frenagens em diferentes condições de pista.

Além disso, mesmo sem o motor tradicional, as motos elétricas continuam exigindo cuidados básicos: pneus, freios e suspensão seguem críticos para a segurança. Já a bateria demanda atenção especial durante o carregamento e o armazenamento — sempre em locais ventilados, seguros e com equipamentos homologados.

Apesar das exigências, o clima é de otimismo. Marcas tradicionais do setor já anunciaram novos modelos e prometem preços mais acessíveis. O consumidor, que antes via as motos elétricas como curiosidade, agora começa a encará-las como alternativa real de mobilidade urbana.

Mas, para Figueiredo, o futuro só será seguro se vier acompanhado de mudança cultural. “Mais do que uma inovação tecnológica, estamos diante de uma transformação de hábitos. O condutor precisa se reeducar, e o trânsito precisa se adaptar ao silêncio do futuro.”

Um crescimento que vem para ficar

O aumento no número de motos elétricas no Brasil não é passageiro. Trata-se de uma mudança profunda, que está transformando a forma como as pessoas se locomovem, especialmente nas grandes cidades. O que antes parecia distante, agora se tornou parte do cotidiano — das entregas rápidas ao deslocamento urbano.

Os números comprovam: mais de 3.400 unidades em apenas três meses representam uma virada de chave no comportamento do consumidor brasileiro. As razões vão além da sustentabilidade. O custo mais baixo por quilômetro rodado, a facilidade de recarga e o baixo custo de manutenção têm atraído desde entregadores e autônomos até quem busca uma alternativa mais econômica ao carro.

Mas é importante lembrar: a revolução elétrica não se resume a economia e tecnologia. Ela traz também uma nova responsabilidade no trânsito. A aceleração imediata e o silêncio quase total fazem dessas motocicletas um fenômeno duplo — um avanço em conforto e eficiência, mas também um desafio à segurança urbana.

O perigo do silêncio

Em cidades como São Paulo e Curitiba, já se percebe o impacto das motos elétricas nas ruas. Para pedestres e motoristas, a ausência de som é algo que exige reaprendizado auditivo. É comum que pessoas atravessem a via sem perceber a aproximação de uma moto elétrica, especialmente em áreas com muito ruído ambiente.

Segundo o CEPA Mobility, essa característica altera até mesmo o comportamento coletivo no trânsito. “O ruído de um motor tradicional é um sinal de alerta natural. Ele faz parte da comunicação invisível entre veículos e pedestres. Quando esse som desaparece, precisamos criar novas formas de percepção e atenção”, explica Diogo Figueiredo.

Na Europa, algumas montadoras já adicionam sons artificiais de baixa frequência aos motores elétricos para alertar pedestres. No Brasil, ainda não há exigência legal para isso — mas especialistas defendem que o tema entre logo na pauta das autoridades de trânsito.

Enquanto essa adaptação não vem, a responsabilidade recai sobre os condutores, que devem usar buzina com mais frequência, manter velocidades moderadas e redobrar o cuidado em zonas de travessia de pedestres.

A curva de aprendizado dos novos pilotos

Quem está migrando das motos a combustão para as elétricas costuma sentir o impacto logo na primeira pilotagem. A diferença na resposta do acelerador, no peso das baterias e na distribuição de torque muda completamente o comportamento da moto.

Na prática, o condutor precisa reaprender a dosar o acelerador e ajustar o reflexo das frenagens. A frenagem regenerativa, que devolve energia à bateria ao desacelerar, cria uma sensação de “freio motor” mais intensa, exigindo coordenação e prática.

É aí que entram as recomendações do CEPA Mobility: treinos em pista segura, simulando situações de trânsito, são essenciais. A entidade também sugere que as autoescolas modernizem seus currículos, incluindo módulos de tecnologia elétrica e condução sustentável.

“O problema é que ainda há um abismo entre o avanço tecnológico e o ensino prático”, comenta Figueiredo. “As provas para tirar habilitação continuam as mesmas, mas os veículos mudaram. O condutor de moto elétrica precisa entender o comportamento eletrônico, o controle de torque, o tipo de freio e até os cuidados de recarga. É outra pilotagem.”

Cuidado com a bateria e o carregamento

O coração das motos elétricas está nas baterias de íon-lítio, que oferecem boa autonomia, mas exigem atenção especial. O CEPA orienta a nunca carregar em locais fechados, evitar tomadas improvisadas e usar equipamentos certificados. O armazenamento também merece cuidado: nada de deixar o veículo sob sol intenso ou próximo de fontes de calor.

Essas práticas aumentam a vida útil da bateria e reduzem riscos de superaquecimento. Além disso, o uso de carregadores originais e a verificação periódica dos cabos e conectores são fundamentais para manter a segurança elétrica.

E, ao contrário do que muitos imaginam, as motos elétricas não são “zero manutenção”. Mesmo sem troca de óleo ou velas, é preciso revisar suspensão, pneus e freios com regularidade — componentes que continuam sujeitos ao desgaste normal.

A democratização da mobilidade elétrica

Com a chegada de novas marcas e modelos mais acessíveis, o mercado começa a se diversificar. O que antes era restrito a grandes centros agora chega a cidades médias e pequenas, impulsionado por incentivos locais e pela expansão de estações de recarga pública.

Para os especialistas, esse avanço democratiza a mobilidade elétrica, mas também exige educação no trânsito. O aumento de motos silenciosas circulando entre carros e pedestres cria um novo tipo de interação urbana — mais limpa, mas potencialmente confusa para quem ainda não se acostumou.

“O crescimento é positivo, mas precisa vir com consciência coletiva. Todos — motoristas, ciclistas e pedestres — terão de se adaptar. O trânsito é um ecossistema, e qualquer mudança de comportamento impacta o todo”, observa Figueiredo.

O papel das empresas e do poder público

A transformação também passa pelas empresas e pelas políticas públicas. Frotas corporativas, aplicativos de entrega e órgãos de transporte já estudam formas de incentivar a adoção segura das motos elétricas. Isso inclui programas de capacitação, instrução técnica e campanhas de comunicação voltadas para o uso correto desses veículos.

Governos locais, por sua vez, têm um papel decisivo na criação de infraestrutura adequada: pontos de recarga rápidos, faixas exclusivas, estacionamentos com segurança elétrica e incentivos fiscais que tornem o investimento mais atrativo.

Com planejamento e conscientização, o Brasil pode seguir o exemplo de países que já adotaram metas de eletrificação no transporte urbano. O importante é não deixar a velocidade do mercado ultrapassar a da segurança.

O futuro elétrico que já começou

O fenômeno das motos elétricas não é moda, é um sinal dos tempos. O mundo busca alternativas mais sustentáveis, e o Brasil finalmente começa a acelerar nessa direção. A tecnologia está pronta, os consumidores estão curiosos — agora, falta o trânsito se preparar para ela.

Como bem resume Diogo Figueiredo, do CEPA: “A eletrificação chegou, e com ela veio a responsabilidade. A moto elétrica é rápida, silenciosa e eficiente — mas exige respeito, preparo e consciência. Só assim poderemos aproveitar o melhor que ela oferece, sem abrir mão da segurança.”

Curiosidades e bastidores sobre as motos elétricas no Brasil

O avanço das motos elétricas no país traz curiosidades que ajudam a entender por que esse movimento é tão diferente de outras transições tecnológicas no setor automotivo. A eletrificação das duas rodas está acontecendo de forma mais ágil, popular e até emocional — afinal, pilotar uma moto sempre foi sobre liberdade, e agora essa liberdade vem com silêncio, economia e sustentabilidade.

O Brasil entre os países que mais crescem

Embora o Brasil ainda esteja longe dos números da China ou da Europa, o ritmo de crescimento impressiona. Segundo a Fenabrave, o país está entre os cinco mercados de motos elétricas que mais crescem no mundo em 2025. Isso ocorre não só pela curiosidade tecnológica, mas também por fatores econômicos: o custo da energia elétrica por quilômetro é até 80% menor que o da gasolina.

Outro fator importante é a urbanização acelerada. Em cidades congestionadas, o baixo ruído e a aceleração imediata tornam as motos elétricas ideais para deslocamentos rápidos. Além disso, com o aumento do preço dos combustíveis fósseis, o público urbano começou a enxergar as elétricas como uma solução acessível e inteligente para o trânsito caótico.

O mito da “moto sem som”

O silêncio das motos elétricas é motivo de fascínio e preocupação. Muitos motociclistas relatam que, nos primeiros dias de uso, é estranho pilotar sem o som do motor como referência de velocidade. Alguns fabricantes estudam incorporar ruídos artificiais personalizados — não apenas para segurança, mas também para trazer uma sensação de identidade sonora.

No Japão e na Alemanha, por exemplo, marcas já permitem escolher entre “sons digitais” inspirados em motores clássicos ou efeitos futuristas. No Brasil, essa tendência ainda está em avaliação, mas especialistas acreditam que deve chegar em breve, principalmente com a expansão das motocicletas premium elétricas.

A bateria como novo “tanque de combustível”

A dúvida mais comum entre os novos pilotos é sobre a autonomia das baterias. Hoje, a maioria dos modelos comercializados no Brasil roda entre 80 e 180 quilômetros por carga completa, dependendo da potência e do modo de pilotagem. Para o uso urbano, é mais do que suficiente.

O carregamento pode ser feito em tomadas residenciais convencionais, mas também há estações rápidas em expansão, especialmente em shoppings e postos parceiros de energia sustentável. A boa notícia é que as baterias modernas suportam até 2.000 ciclos de carga, o que equivale a mais de cinco anos de uso intenso.

Além disso, novas tecnologias prometem reduzir o tempo de recarga para menos de 30 minutos — o tempo de uma pausa para café e descanso entre entregas.

O novo perfil dos motociclistas elétricos

Outro fenômeno interessante é o novo público que as motos elétricas têm atraído. Se antes o setor era dominado quase exclusivamente por homens entre 25 e 50 anos, hoje o perfil é mais diverso. Há mulheres, estudantes e profissionais liberais entre os novos compradores.

Isso se deve ao fato de que as motos elétricas são mais leves, mais fáceis de pilotar e exigem menos manutenção. Em muitas cidades, elas também podem estacionar gratuitamente em vagas de ciclomotores, o que as torna práticas para o dia a dia.

O papel do CEPA Mobility

Por trás dessa transformação, o CEPA Mobility tem desempenhado um papel fundamental. A empresa atua em 30 países e é líder nas Américas em segurança e eficiência operacional no trânsito. Seus programas de capacitação treinam desde frotas de empresas e motoristas de aplicativos até pilotos profissionais de carga e transporte de risco.

Além de oferecer consultoria e gestão de dados para reduzir custos e acidentes, o CEPA também emite o certificado GDC (Global Standards Certification), reconhecido mundialmente como referência em formação de condutores.

A meta do CEPA é simples, mas poderosa: salvar vidas e transformar a cultura da mobilidade. E essa missão ganha ainda mais relevância em um momento em que o país se prepara para um futuro elétrico.

O próximo passo: conscientização coletiva

A eletrificação das motos é inevitável, mas o sucesso dessa revolução depende de uma palavra-chave: adaptação. O trânsito brasileiro, acostumado ao barulho, à fumaça e à vibração dos motores a combustão, vai precisar se acostumar com a sutileza dos novos tempos.

As ruas estão mudando, e com elas vem uma nova forma de enxergar a mobilidade. As motos elétricas representam mais do que inovação: elas são um convite à responsabilidade, à eficiência e ao respeito mútuo — valores que sempre foram o combustível mais seguro para qualquer jornada.

Quer deixar um comentário?

Seu e-mail não será publicado Campos obrigatórios estão marcados*

The field is required.

Para fornecer as melhores experiências, usamos tecnologias como cookies para armazenar e/ou acessar informações do dispositivo. Não consentir ou retirar o consentimento pode afetar negativamente certos recursos e funções.

Política de Cookies